
Do Instituto Carbono Brasil
Pesquisadores destacam importância do cultivo de cacau sob a sombra da floresta nativa para o armazenamento de carbono e para a biodiversidade, e recomendam que mais recursos sejam destinados para essa prática
Publicado no periódico ‘Mitigation and Adaptation Strategies for Global Change’, um artigo que contou com a colaboração dos pesquisadores do Departamento de Ciências da Universidade Estadual de Santa Cruz estimou que toda a cobertura florestal do sul da Bahia, composta por diferentes tipos vegetacionais, retém 89 milhões de toneladas de carbono acima do solo.
Deste total, as agroflorestas de cacau representam quase metade da cobertura florestal existente (48%), e contribuem com a maior parte (59%) do carbono estocado na região. O destaque são as plantações de cacau sob o modelo tradicional da cabruca – onde o cacau é cultivado sob a sombra da floresta nativa raleada –, que armazenam 51% do carbono.
Entre as florestas remanescentes, que, juntas, cobrem 52% da área vegetada da região, as florestas maduras e perturbadas estocam 32% do carbono regional; já as em estágios iniciais de regeneração, as capoeiras, armazenam apenas 9%.
Tanto em florestas nativas como em plantações de cacau, a maior parte do carbono encontra-se estocada nas árvores grandes. Porém, em busca de um aumento de produtividade para o cacau da região, o processo de intensificação da lavoura tem sido feito através da retirada das árvores para permitir um maior adensamento dos cacaueiros e menos sombreamento.
“A partir da amostragem de árvores em cacauais pouco sombreados, estimamos que o atual manejo de intensificação da lavoura resulta em uma perda média por hectare de quase metade do carbono estocado em uma cabruca”, afirmam os pesquisadores.
Eles alertam que, se esse processo continuar e todas as cabrucas forem intensificadas, aproximadamente 21 milhões de toneladas de carbono podem ser liberadas para a atmosfera. Isso equivale a cerca de 75% do carbono estocado hoje nas florestas nativas da região.
“No entanto, acreditamos que o processo de intensificação possa ser feito de maneira mais flexível, sem redução significativa do estoque de carbono, através da remoção seletiva de árvores menores e da manutenção das de maior porte”, sugerem os pesquisadores.
