
Blog do Gusmão com exclusividade.
As crises climáticas preocupam povos de várias nações. Segundo o Projeto de Realidade Climática, iniciativa internacional criada pelo ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, 99,99% da comunidade científica de todo o mundo, ligada ao estudo do tema, admite a elevação da temperatura da Terra como fenômeno anormal. A causa está na emissão, cada vez mais descontrolada, de gases provenientes de combustíveis fósseis.
Em 2014, São Paulo registrou o mês de janeiro mais quente da história. A temperatura máxima atingiu 31,9ºC, e a média 25ºC. No passado, os paulistas quase que dizimaram a Mata Atlântica. No presente, secas ocorridas na Região Norte (cuja raiz do problema está no desmatamento da Floresta Amazônica) diminuem a evaporação da água, impedindo que nuvens carregadas de chuvas cheguem ao principal centro financeiro do país. Resultado: o Sistema Cantareira, uma das bacias hidrográficas responsáveis pelo abastecimento de água da “pauliceia”, desceu ao menor nível dos últimos 10 anos.
Mas, aqui entre nós, o que Ilhéus tem a ver com isso?
O território ilheense tem aproximadamente 80 km de costa litorânea. Parte é composta por terras costeiras de baixa elevação. Com o crescimento do nível do mar (entre um e dois metros até 2100) inundações ocorrerão em áreas próximas do oceano Atlântico, ou, de rios da nossa bacia hidrográfica. Populações de baixa renda e até condomínios de classe média serão afetados. A costa nordeste do Brasil é especialmente vulnerável e Ilhéus – assim como os demais municípios da Costa do Cacau – terá muitas de suas praias erodidas.
O oceanógrafo Gil Reuss, professor da UESC, é um pesquisador atento a essas previsões. Nessa entrevista ao Blog do Gusmão, ele aponta caminhos para o mundo se livrar das crises climáticas, prevê cenários nada otimistas para Ilhéus e fala sobre os pouquíssimos céticos da comunidade científica que insistem em discordar da tese do aquecimento global.
No final da entrevista, publicamos um vídeo criado por Pedro Spanghero e Tássio Moreira (estudantes de Geografia da UESC) que mostra a perspectiva de um cenário drástico para Ilhéus em 2100.
Vale a pena conferir. Pela primeira vez um veículo de comunicação do eixo Ilhéus-Itabuna discute os prováveis efeitos locais das mudanças climáticas.
Imagens aéreas gentilmente cedidas pelo fotógrafo e especialista em Ilhéus José Nazal.
BLOG DO GUSMÃO – Professor Gil Reuss, hoje a comunidade científica ligada ao clima e ao estudo dos oceanos fala de uma nova realidade climática até 2010. De onde vem esse alerta?
Gil Reuss – Existem dois motores para as alterações climáticas. Um é o sol, que traz o calor para a terra. Desde que se tem registro, o sol funciona como um relógio. A atividade solar tem um ciclo de cerca de onze anos. Esse ciclo tem ocorrido, mais ou menos, de forma regular.
Porém, existe outro fator que influencia o clima: a composição da atmosfera. O clima na terra depende da energia emitida pelo sol, mas, também tem relação com a composição da atmosfera. É essa composição atmosférica que está sendo alterada pela ação humana. Com a queima de combustíveis fósseis, o homem conseguiu alterar essa composição e fez com que o aumento de gases responsáveis pelo efeito estufa chegasse a causar um aumento da temperatura média na atmosfera. Junto a isso, temos percebido o aumento de fenômenos extremos, de seca, de chuva, de tempestades tropicais, que ocorrem de forma aleatória, pelo menos, no nosso entendimento até agora.
BLOG DO GUSMÃO – A seca em São Paulo, na Cantareira, é um exemplo?
A seca em São Paulo, pelo que tem sido colocado pela comunidade científica, tem relação muito forte com o desmatamento na Amazônia. Existe um projeto antigo chamado “rios flutuantes”, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia). Ele consiste em medir a umidade de locais específicos da Amazônia e também na atmosfera com aparelhos transportados por aviões. Com isso, os pesquisadores perceberam que havia uma quantidade muito grande de umidade vinda da evapotranspiração natural da Amazônia. Essa evapotranspiração é levada por ventos (a grandes altitudes) na direção sul, diretamente para a região sudeste do Brasil. Esses ventos continuam ocorrendo, só que a evapotranspiração na Amazônia diminuiu muito. Com isso, esse vento tem chegado seco lá em São Paulo. Os últimos anos registraram uma progressiva diminuição da umidade e da pluviosidade dessa região. Portanto, há forte possibilidade de haver conexão entre esses fenômenos.
A Barra tem grande probabilidade de ser invadida pelo mar, inclusive já existe problema de erosão praial ali e é possível que isso seja agravado.