Por Mohammad Jamal
Começo citando os exemplos de silogismos que alguns poucos aprenderam no compêndio da lógica de Kieseweter: “Caio é um homem, os homens são mortais, logo Caio é mortal” – e encerra-se assim raciocínio comum que transparece a todos exato, em se tratando de Caio, mas não em se tratando distintamente de si próprio, sua pessoa, sua própria vida. Caio era um homem em geral e devia morrer. Mas cada um em sua singular autorreflexão não é um Caio. Caio que morra lá quando quiser ou o destino determinar; nós não! Nós não somos o Caio. Caio era um homem ou poderia ser uma mulher em geral e assim poderá morrer quando se lhe aprouver à predestinação. Nós não somos Caio; não somos homem ou mulher em geral, somos homem ou mulher à parte, inteiramente à parte, então porque comigo ou conosco? Por que a morte vem bater à nossa porta assim? Isso é injusto e indevido segundo o destaque que nos autoatribuímos indiferentes às impessoalidades e imponderabilidades dos eventos trágicos que caem sobre os vivos como meteoritos, sem destinatário certo. Morrer? É ruim!
Núbia passou o resto da tarde muito triste e deprimida; percebera como lhe fora dito, que a morte era iminente, por isso arrumava suas poucas coisinhas numa trouxa para retornar às pressas à casa dos pais lá no longínquo interior do sertão de Carangola. Queria beijar os pais e abraçar os irmãos antes de morrer. Não importava trabalhar na cozinha de um simpático casal onde o cônjuge Dr. Apinagé (o nome é fictício) era médico respeitado e famoso na cidade, pois fora ele mesmo que a alertara do pouquíssimo tempo que lhe restava em vida, sinalizando no seu clássico silogismo clínico que nada se poderia fazer para salvá-la do triste evento final; logo ela, na flor da idade?