
Por José Henrique Abobreira e José Carlos Júnior
Aos sábados, depois de supervisionar os postos de combustíveis de sua propriedade, Jairão, como era conhecido o inesquecível amigo Jairo Seixas, lá pelas 11h30min, adentrava o bar em frente à sua residência. Pedia uma cerveja, e, em pé mesmo, iniciava o ritual da sabadeira no boteco do Leleco.
Como um verdadeiro meio de campo de futebol, do alto dos seus quase dois metros de altura, ia distribuindo as “tarefas” do time de frequentadores do recinto, local onde todos exorcizavam e curavam o estresse da labuta, ao provar a gelosa e os acepipes de primeira ordem, como siris de mangue, robalinhos fritos, pastéis de camarão, caldinho de sururu, caranguejos, guaiamuns. As tarefas distribuídas por Jairão eram a formação da roda de dominó, com a participação de Brasinha, Raimundo Moreia, Faustinho Fontes, Zé Carlos Jr e este escriba, e as rodas de resenha e mesas para degustação não só dos tira-gostos da casa, como iguarias preparadas no bar, mas vindas de outras origens, pois triste do gabola que revelasse nas rodas do bar que tinha levado pra casa um peixe bom, ou uma caça comprada de um caçador do Mambape.
A turma escutava em silêncio a gabolice. Contratava um menino de recados e esse, devidamente instruído, ia até a casa do gabola e dizia à esposa do conversador: “seo Fausto Fontes pediu pra senhora mandar o tatu para seo Leleco preparar”. A esposa, coitada, incauta, caía na esparrela e entregava a iguaria que, de pronto, era preparada na cozinha do bar e degustada por todos, inclusive o gabola inocente do logro que lhe tinham pregado. Ao chegar em casa, com o apetite espicaçado pelo que tinha provado em pequena porção no bar e perguntar pelo objeto de desejo, a mulher respondia: “ué, você não mandou pegar pra comerem no bar do Leleco?”
Meu querido avô, tão amado por todos! Fico feliz por ver recordações escritas por pessoas que conviveram com ele, trazendo lembranças que existiram antes mesmo do meu nascimento! Grandes personagens dessa época tive o prazer de conhecer e conviver. Tenho orgulho de ser neta e ter feito parte dessa história. Amo e amarei para todo sempre… Meu querido e inesquecível avô ” Leleco”. Muito obrigada José Henrique Abobreira.