
Por Suzana Padua/publicado em OECO
“Se os matadouros tivessem paredes de vidro, todos seriam vegetarianos”, Paul McCartney
Quem come carne pode ser responsável por muitas ações nada éticas, mesmo que não queira admitir. Por exemplo, o desmatamento da Amazônia e de outros biomas, agora e no passado, ocorre principalmente para a criação de gado ou o plantio de soja. Ambos tem relação com a produção de carne, seja diretamente, como o gado criado para o abate, ou, no caso da soja, para exportação, servindo de alimento para bois e porcos criados no exterior. São muitos os agravantes nesse processo, além da perda de biodiversidade e dos ciclos naturais que mantém a vida, ou o metano liberado na atmosfera advindo do gado ruminante. E o Brasil exporta muita água com essas atividades, uma vez que mais de 70% da água doce disponível vai para agricultura, que inclui a grama para o gado. Poucos países têm a disponibilidade territorial ou se submetem à perda de tanta água com esse tipo de produção. Segundo Yolanda Kakabadse, ex-ministra do Meio Ambiente do Equador, hoje Presidente do WWF internacional, cada bife de 500 gramas consome seis mil litros de água para ser produzido, o que é especialmente significativo nesse momento de escassez hídrica do país e, portanto, merece reflexão.
Outro aspecto antiético é o próprio abate dos animais. Não é possível que nós humanos sejamos coniventes com a forma com que os animais são mortos. Na verdade, preferimos não ver e nem saber o que ocorre para não sentirmos culpa. Mas, como ouvi de alguém lúcido, se um matadouro fosse bonito e honroso, seria envidraçado para os consumidores apreciarem. A situação é tão violenta que os trabalhadores responsáveis pelo abate e separação da carne sofrem danos físicos e psicológicos acima da taxa observada em outras atividades trabalhistas. Imigrantes, sem opção de algo melhor são muitas vezes levados a preencherem as vagas nos matadouros, pois quem tem qualquer possibilidade de escolha opta por outra profissão. Essa é a realidade no Brasil e nos Estados Unidos. Aqui, haitianos que têm imigrado para o Acre estão sendo contratados para os frigoríficos de diversas regiões do país, por não serem legalizados e assim não terem como reclamar das péssimas condições de trabalho a que serão submetidos.
Sofrimento animal e trabalho precário
Os frangos também sofrem no processo de produção. Pintinhos considerados inaptos são triturados ainda vivos para não atrapalharem os demais, e viram ração ou algum insumo para outro produto vendável. A forma com que os animais são criados e alimentados raramente favorece o bem-estar deles. E certamente nem dos humanos, já que a quantidade de hormônios e alimentação desequilibrada ultrapassa a recomendação dos “standards” da saúde. Os animais não são mais vistos como seres vivos, e sim como um produto a ser comercializado.