
Por Emilio Gusmão.
Antes de ser definido como suplente do atual presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Ângelo Coronel, na disputa por uma vaga no Senado, o comunista Davidson Magalhães já namorava o PSD, partido considerado de direita, ou, de maneira mais compreensiva, de centro- direita.
O partido de Oto Alencar minou a senadora Lidice da Mata pelas beiradas e o primeiro passo foi um bem planejado processo de cooptação do PC do B da Bahia.
Como Davidson buscava manter-se na Câmara dos Deputados, Oto e Coronel lhe ofereceram alguns municípios governados pelo PSD, para que ele pudesse conquistar mais votos e saísse das urnas como titular da vaga, ao invés da suplência conquistada em 2014.
Ideologia às favas, Davidson iniciou pré-campanha em Ibicuí, Gongogi, Camacan e Ibirapitanga.
Dentre os partidos com representantes no Congresso Nacional, o PC do B é o mais rico simbolicamente. Traz consigo a foice, o martelo e toda uma história de lutas heroicas. É também uma cepa do velho partidão (PCB).
Mesmo que tenha defendido a ditadura do proletariado (um erro histórico revelado primeiramente pelo “Relatório Kruschev” em 1956, e destruído no desmoronamento do bloco soviético, em 1989), o Partido Comunista do Brasil tem um passado de grandes exemplos, constatado facilmente na abnegação de vários militantes que dedicaram suas vidas ao combate à iniquidade. Pedro Pomar e Maurício Grabois, fundadores do PC do B, foram assassinados no exercício da luta partidária.
Quem leu biografias de Luiz Carlos Prestes, Carlos Marighella e a autobiografia de Gregório Bezerra*, e ficou tocado pelos exemplos notáveis de obstinação, humildade, honestidade e coerência, pode ter dificuldades para aceitar o comportamento político de Davidson Magalhães, que apesar dos pesares, ainda se considera comunista.
Como presidente do PC do B da Bahia, Davidson ficou calado diante do alijamento da senadora Lídice da Mata da chapa do governador Rui Costa. Calou-se por já ter negociado com Oto e Coronel em seu benefício. O problema é do PSB? É claro que sim. Contudo, o silêncio é mais uma prova do afastamento do PC do B da “luta de classes” (lamentável para um partido comunista). Ignorou a expulsão de Lidice da chapa e aceitou a suplência de um político convencional e aristocrata.
Pode parecer bobagem a citação de referências históricas e ideológicas diante de uma realidade política clientelista e de fisiologismo. No caso em análise não é. O autor do texto não é comunista. Considera-se, apenas, um admirador de algumas personalidades do movimento, e, nesta análise, não consegue se desvincular da questão simbólica.
Por conta dela, Anita Leocádia, filha de Prestes, protestou em 2012 quando o PC do B tentou anular a cassação do mandato do “Cavaleiro da Esperança”, ocorrida no Senado Federal em 1948.
Anita Leocádia chamou o episodio de “oportunismo imoral”.