Por meio de uma carta pública enviada ao Blog do Gusmão nesta segunda-feira, 12, professores, servidores, pais de alunos e estudantes do Colégio Estadual do Basílio, em Ilhéus, manifestam posição contrária à secretaria estadual de educação, que já anunciou a municipalização da escola em 2019.
Dentre as razões citadas, a comunidade teme a disputa entre facções criminosas rivais, que impede estudantes do Alto do Basílio de frequentar outras escolas próximas, a exemplo do Colégio Estadual Paulo Américo, unidade de ensino que provavelmente vai abrigar os egressos.
Na carta, a comunidade escolar afirma que a municipalização vai “interditar perspectivas” dos estudantes. A carta pede uma discussão democrática sobre o assunto com as pessoas diretamente afetadas.
Leia a carta.
Prezados Senhores.
Tendo em vista a proposta de municipalização para o ano de 2019 do Colégio Estadual do Basílio, situado na Rua Nossa Senhora da Conceição, no bairro do Basílio, em Ilhéus-Ba, nós, corpo diretivo, docentes, servidores técnico-administrativos, alunos, pais e comunidade, viemos, através deste, manifestar nossa contrariedade diante dessa proposta e, com efeito, apresentar alguns fatos que consubstanciam nosso posicionamento.
Embora a Constituição Federal, promulgada em 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), vigente desde o ano de 1966, estimulem a municipalização do Ensino Fundamental, o Colégio Estadual do Basílio, nossa amada escola, possui características únicas e peculiares que tornam seu fechamento ou transferência de sua tutela ao município, atos que agredirão um dos mais caros princípios constitucionais, quer seja, o direito à educação.
Restabelecidos dos devaneios emocionais que o conhecimento dessas propostas (fechamento ou municipalização) nos causou, achamos por bem pontuar os aspectos que balizam nosso contraponto a essas medidas administrativas que, por sua vez, sabemos ser um reflexo do minguamento orçamentário derivado da famigerada PEC dos Gastos, a qual invés de construir pontes para o futuro, amplifica desumanamente os abismos sociais. Assim sistematizamos as questões que alicerçam nosso posicionamento:
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Por estar situada em bairro periférico, nossa escola atende a estudantes com dificuldades financeiras, que não tem condições de arcar com despesas relacionadas à mobilidade para escolas localizadas em outros bairros;
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Devido às rivalidades entre facções criminosas existentes nos bairros circunvizinhos, ficará inviável para os nossos estudantes frequentarem escolas como Colégio Estadual Paulo Américo de Oliveira, localizado no bairro do Malhado, o qual foi apontado como unidade escolar que receberá os nossos discentes. Apesar de serem bairros próximos, a segurança que a escola no próprio bairro transmite aos estudantes em nada se compara à sensação de medo e perseguição que pode se instaurar ao mudarem de escola, visto que as facções rivais não permitem que moradores de determinados bairros transitem nas imediações que atuam;
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Os estudantes matriculados no turno noturno dispõem apenas dessa unidade escolar para a conclusão de seus estudos, uma vez que todos trabalham durante o dia e a nossa escola localiza-se nas proximidades de suas residências. Assim, ao final de cada dia de trabalho, muitos retornam às suas residências e já se dirigem à nossa unidade escolar. Desta feita, o remanejamento desses estudantes para outras unidades escolares seria prejudicial, pois ocasionaria atrasos constantes, além de gastos com o deslocamento, provocando assim a desistência dos estudos;
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Nossa unidade escolar também atende a estudantes privados de liberdade, sendo responsável pela matrícula, organização de turmas e disponibilidade de docentes para cumprimento do calendário letivo no Presídio Ariston Cardoso. Com um total de 70 estudantes, distribuídos em cinco turmas, cumprimos o que defende a Constituição Federal, ou seja, o acesso à educação aos privados de liberdade;
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Para lastrear juridicamente nossa posição, lembramos que a Constituição Federal de 1988, também conhecida sob a alcunha de Constituição Cidadã, em seu Art. 205, estabelece que a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família. Por conseguinte, no Art. 206, a Carta Magna também determina que o ensino seja ministrado garantindo condições para o acesso e permanência na escola.
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De forma protagonista estamos progressivamente mudando a realidade do colégio. O diálogo com a comunidade nos tem mostrado que invés do fechamento ou municipalização, seria extremamente viável a implantação de cursos técnicos em áreas estratégicas para os jovens da comunidade, tendo como exemplos: construção civil, turismo e estética.
A direção do Colégio não cita quantos estudantes há nos três turnos, situação essa que evidencia a sua desativação.