Chá de pilhas, arrebites. Há coisa de duas décadas a ciência farmacêutica nos brindou com duas descobertas em forma de pílulas miraculosas. A uma se atribuía a completa extinção da disfunção erétil, o Citrato de Cidenafil; e com a outra, se decretava em definitivo o fim da depressão que atinge 20% da população mundial, com a Paroxerina, mais conhecida por Prozac. Dizia-se que a nova compreensão da neuroquímica tornara-se tão avançada que em breve seria possível desenvolver e ate variar nossas personalidades segundo as preferências de cada um. A partir daí, não haveria mais espaço neuropsíquico para as angústias e depressões humanas. Dizia-se à época, que pessoas submetidas a tratamento com a Paroxetina não tinham apenas superado a depressão, mas também haviam se renovado completamente e até aperfeiçoado suas personalidades.
Exercício ilegal da profissão? O tempo passou trazendo milhões de dólares em dividendos aos acionistas das multinacionais farmacêuticas e, não obstante às prescrições maciças dessa como de tantas outras substâncias de semelhantes indicações para milhões de pessoas, essas “maravilhas químicas” não conseguiram reduzir significativamente o total da miséria humana e sua perplexidade diante da vida, diga-se, dura vida para a maioria. Alguém que tenha lido mínima parcela da grandiosidade da obra de Shakespeare não se surpreenderia com essa decepção. Quando MacBeth pergunta ao médico:
“Cura-a disso. Não podes encontrar nenhum remédio para um cérebro doente, da memória tirar uma tristeza enraizada, delir da mente as dores aí escritas e com algum antídoto de oblívio doce e agradável aliviar o peito que opresso geme ao peso da matéria maldosa que oprime o coração?”. Ao que o médico responde lacônico: “Para isso deve o doente achar os meios.”. Seria ele um doutor do SUS?
Adereços e badulaques arquitetônicos. Quanto mais levada ao absurdo exagero, a decadência exala para alguns, seu charme contemplativo; um contemplar que é uma mistura de arcaísmo arqueológico que aceita e desafeiçoa o belo degradado ao abandono e, acolhe com naturalidade a morte prematura do contemporâneo. Algo parecido com a visão das múmias e seu exotismo mórbido como remanescente mudo, iconográfico de um passado de grandezas, contudo, sem haver suportado o peso do tempo e a desídia da imortalidade que mal conservou os seus restos sob as pirâmides do vaidoso egocentrismo, algo objeto que supunha eternizado.
É Lula Livre? Há romantismo nas ruínas sim, e de fato elas são românticas a ponto de abastados cidadãos as reconstruírem em cópias suntuosas nos jardins das suas opulentas mansões como agradáveis e melancólicos lembretes sobre a transitoriedade da existência terrena. A propósito. Aí vem a exemplo, Ilhéus, que já teve faraós e pirâmides de mármore; seu passado de riqueza e opulência aos moldes dos egípcios e dos europeus; consideradas as devidas proporcionalidades. Pena que naqueles tempos, ha décadas, não se projetavam prognósticos sobre a macroeconomia, o agronegócio, tampouco se imaginava que a árvore que paria dinheiro pudesse um dia morrer de eclampsia, neoplasia ou abatida por um simples e corriqueiro fungo lançado por um terrorista socialista que lhe atingiu mortalmente “as partes” falindo irremediavelmente a cornucópia da riqueza que brotava das cultivares quase sem tratos culturais, seus frutos dourados sob o calor úmido à sombra de outras árvores desimportantes, jaqueiras, tangerinas, pinhas…
As joias da coroa são de micheline e latão, mas joias! Mas voltemos à triste Ilhéus, à dura realidade que envolve aqueles remanescentes sem eira nem beira e aqueloutros, com alguma beira duramente economizada ou com pouca eira, produto do trabalho. Podemos dizer que naqueles tempos fartos de outrora, imprevidentes ou não, perdulários, nababos, chiques degustadores das delícias e prazeres mundanos, de cujas roças de cacau manavam rios de dinheiro em duas safras e duas bongas, que dissipavam grana como nababos nos vales das delícias, mereçam alguma inculpabilidade. Quanto a isso, aos festins e ao luxo não cabem censuras ou críticas. Como diz Adelaide: “é meu, dou a quem quiser.”. Concordo plenamente. Quando adquiro uma camisa nova, já saio da loja vestindo-a! A vida é efêmera.