De fato, Presidente, o senhor não é um coveiro. Se fosse, a vida teria lhe ensinado a ter mais respeito pela vida humana e pela dor de quem perde e sepulta um ente querido.
Por Julio Gomes.
Perguntado por um repórter, nesta semana, acerca do número de óbitos recentes causados, no Brasil, pela pandemia de COVID-19, nosso mandatário maior respondeu, com atitude grosseira que lhe é típica, que “não sou coveiro”.
Não surpreendem mais ninguém a estupidez, a forma desrespeitosa, ou mesmo debochada de tratar a outras pessoas, quando se trata de uma resposta saída da boca de nosso atual Presidente. Por isso, não desejo abordar a questão sobre este ponto de vista, mas sobre outro, diverso.
Há cerca de vinte anos atrás, ocupei a Vice-Presidência e, depois, a Presidência do SINSEPI, Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Ilhéus. Foram mais de dez anos à frente das reivindicações desta categoria profissional, o que me levava a conversar diretamente com todas as classes de servidores: guardas municipais, agentes de saúde, advogados, auxiliares administrativos, varredores de rua, odontólogos, auxiliares de serviços gerais que trabalhavam na coleta do lixo urbano, fiscais, motoristas, arquitetos e… coveiros, já que naquela época, em Ilhéus, todos os cemitérios aqui existentes eram administrados pelo Município, pela Prefeitura, como se diz popularmente.
Me lembro de como fizemos um movimento de reivindicação para que os coveiros passassem a ganhar o adicional de insalubridade de 40% sobre o salário mínimo, posto que até então não o recebiam; e continuei acompanhando ao longo dos anos a luta destes servidores pelo recebimento das horas extras trabalhadas; por EPIs (botas, luvas etc.); por melhores condições de trabalho e outras demandas próprias desta categoria.
Por conta disso, nossas visitas aos cemitérios eram frequentes, e conhecíamos a todos os coveiros que trabalhavam na zona urbana de Ilhéus pelo nome, sabendo onde cada um estava lotado, conhecendo as qualidades e problemas de cada um deles. (mais…)