
Era o olhar do desprezo à juventude – que representa sempre uma ameaça para pessoas como aquele coronel – e da revolta por não poder agredir fisicamente; acompanhada do riso cínico de quem não pode dar vazão aos piores sentimentos e ações.
Por Julio Gomes.
Estávamos no início dos anos 80, mas não lembro exatamente o ano. O Presidente da República era o General João Figueiredo. Adolescente, entre 15 e 18 anos, lembro-me que vivíamos ainda sob os governos militares, mas, como a imensa maioria dos jovens, estava mais ligado na descoberta do mundo do que em fatos políticos.
Como jovem, interessava-me mais a conquista de liberdades, sobretudo individuais, pois não tinha a consciência do quanto são importantes as liberdades coletivas; e quando sintonizava ocasionalmente a TV no programa de Carlos Imperial gostava de ver suas “lebres”, ou seja, dançarinas (tipo as chacretes do Chacrinha, da Globo), rebolando ao som da “Melo do Figueiredo”, que era logo interrompida pela cara risonha e indesejável do apresentador do programa. Coisas da juventude…
Cursava, então, o ensino médio no Colégio Pedro II, uma instituição pública e federal de ensino, que em sua unidade situada no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, dispunha de uma admirável sala para jogos de xadrez, com tabuleiros oficiais e ar condicionado. Um luxo para aquela época!
Rebelde, como quase todos os jovens, eu costumava gazetear, filar ou matar aulas (o termo fica à sua escolha) para jogar xadrez, o que obviamente era proibido aos alunos durante o horário de aula, e este fato me levou à presença do Diretor Geral do Colégio, que era um coronel, embora na época eu não conseguisse compreender o que um coronel do Exército estaria fazendo dentro de uma escola, que não era um colégio militar, mas uma instituição plenamente civil.
Lembro-me de ser levado à presença deste Diretor e, sobretudo, do olhar sarcástico, com um riso forçado e de profunda repulsa com que ele me olhou, deixando transparecer algo de muito ruim que eu senti ao ponto de me lembrar disso até hoje, aos 55 anos de idade, sem conseguir, na época, compreender o porquê.
Passaram os anos. Saí do Colégio e segui trabalhando, estudando, amadurecendo e aprendendo com a vida, seja pelo amor ou pela dor. (mais…)