Humberto Gessinger já confessou: ele não esperava a repercussão que o refrão da sua música teve. Para o compositor gaúcho, acolher a expressão “o Papa é Pop” foi uma atitude punk do povo brasileiro. A música “O Papa é Pop” foi lançada num disco de mesmo nome, dos Engenheiros do Hawaii. 1990 – era o começo do fim do século XX e Humberto captou o espírito da coisa.
A crônica da música apresenta uma reflexão realista sobre a midiatização do mundo. A imposição de uma sintaxe onipresente dos sistemas de comunicação. Tudo precisa passar pelo crivo do médium para existir socialmente. Inclusive a Humildade (“com H maiúsculo e dourado”) de um papa.
As Igrejas e os Estados sempre souberam disso. Quando João Paulo II “levou um tiro à queima-roupa” a violência do ato foi capitalizada pela própria Igreja Católica. “Morresse João ao vivo”, divagou o Arcebispo Secretário de Marketing do Vaticano. Porque papas são substituíveis. O papa aposentado que o diga. “Mas quanta visibilidade valeria o ídolo assassinado em tempo real?”, calculou o ASMV.
Porque a visibilidade é O capital social do nosso tempo. A música dos Engenheiros capturou o processo de consolidação da visibilidade num imperativo (Paula Sibilia). Um fator determinante para a sobrevivência de ideias, ideais, movimentos sociais, partidos políticos e papas. Todos recorrem ao poder da comunicação social.
No congresso nacional, os maiores partidos querem suprimir o direito dos menores ao horário eleitoral na TV. A lógica dos donos da proposta é simples: dizimar qualquer chance da concorrência no mercado da visibilidade. Na televisão aberta do Brasil, o discurso ruralista tem vários canais – nenhum para defender os interesses das etnias nativas. Para partidos grandes e latifundiários, partidos pequenos e índios são bons quando mortos. Porque mortos não ameaçam hegemonias.
Nas escolas de comunicação social, duas teorias se ocupam do estudo avançado sobre o agendamento de notícias (discursos, em última instância) na pauta do espaço público. A Agenda Setting (McCombs e Shaw), como o nome inglês indica, afirma que os mass-media tem um poder muito influente no controle dos temas sobre os quais as populações discutirão. O agendamento consiste na atuação conjunta dos difusores de informações, como um sistema integrado.
A segunda teoria, chamada Espiral do Silêncio (Noelle-Neumann), entende que ideias minoritárias tendem ao desaparecimento. Quanto menor o número de vozes defendendo uma ideia, maiores são os desafios que essa mesma ideia enfrentará para resistir no espaço público. Há uma pressão dos discursos hegemônicos que subtrai o poder de manifestação das ideias alheias ao Status Quo. Desse modo, pensamentos minoritários são empurrados para o esquecimento – uma espiral do silêncio lhes amordaça.
Portanto, nas duas teorias, a visibilidade social é um conceito chave. Para entrar na agenda dos espaços públicos, a notícia precisa dela. Para sobreviver à atração fatal da espiral do silêncio, a ideia precisa de visibilidade. Tudo isso está condensado na aliteração “o papa é pop”, que a atitude-punk-involuntária do brasileiro estandardizou.
João Paulo II se notabilizou pelo carisma. O cardeal Ratzinger (pobre Bento) saiu pela falta dele. Numa época de grande visibilidade e reestruturação dos poderes religiosos, a Igreja Católica não hesitou em aposentar o alemão e sua sisudez congênita. Para o seu lugar (e a escolha do novo pontífice raras vezes foi tão rápida), ninguém mais adequado que o humilde Papa Francisco. Ainda mais se, ao invés de franciscano, ele for jesuíta – a ordem religiosa específica das missões colonizadoras no Novo Mundo.
Papa Francisco está campo e “bota fé” na sua missão. O refrão punk retorna inevitável, porque “o Papa é pop – o pop não poupa ninguém”.
Era noite no Pontal. A senhora vociferou: “Largue! Largue meu lixo! Não mexa! Não venha bagunçar meu lixo”!
Pensei que a mulher enxotava um cão. Mas o animal do qual ela defendia seu lixo nos era semelhante. Notei isso quando o homem levantou e caminhou até o próximo monte de sacolas. Delas, ele re-colheu duas latas. Depois disso, o trabalhador seguiu seu caminho e a senhora voltou ao grupo de vizinhos reunido na calçada.
As personagens se foram. A impressão produzida pela cena, não. Intimamente, solidarizei-me com o homem tratado feito cão. Mas não ousei manifestar-me contra o sentimento de posse que aquela mulher nutria pelo seu lixo. Não convinha desafiar sua raiva. Muito menos explicar-lhe o valor ecológico e socioeconômico da Legião Anônima de Trabalhadores Autônomos.
Ou será que aquele catador sempre bagunça o lixo da senhora e, dessa vez, ela lhe flagrou? Certamente, isso justificaria a violência da velha. Afinal, não se pode sair por aí revirando o lixo alheio, sem pedir licença ao dono.
Em tempos de velhas e novas guerras, catástrofes naturais no mundo e avalanches diárias de violência na TV doméstica, nada mais recomendável para o olhar saturado do telespectador do que voltar aos arquétipos imemoriais dos contos de fadas e consumir doses diárias de emoção alheia, de um tipo ao mesmo tempo novelesco e real: um casamento de princesa que, no mundo inteiro, anuncia-se em contagem regressiva. Quando, no próximo sábado, o príncipe inglês William e a plebeia Catherine Elizabeth Middleton trocarem alianças e pactos de amor eterno na Abadia de Westminster, em Londres, no mesmo lugar onde há 30 anos casaram-se Diana e Charles (pais do noivo), nada menos que 2,5 bilhões de telespectadores em todo o mundo estarão de olhos vidrados na tela. E, estranhamente, cada telespectador saberá mais detalhes da vida privada do casal do que sabe sobre sua própria família.
Sedenta de novos personagens para encher os olhos da audiência, a TV do mundo rendeu-se aos encantos de Kate Middleton desde que o noivado com o príncipe inglês foi anunciado oficialmente ao mundo e ela foi entronizada como o mais novo ícone fashion, embalada em um wrap dress azul (vestido envelope) e ostentando um anel de diamantes e safira do acervo da falecida sogra. Desde então, e num crescendo à proporção que o casamento aproximava-se, o casal principesco foi ocupando com a força de um tsunami todos os espaços midiáticos, dos jornais impressos regionais do interior do Brasil aos sites de moda mais antenados de Tóquio, passando por generosos espaços no francês Le Figaro, que na última quarta-feira inseria um caderno especial dedicado ao casal real. Blasè como exige o comportamento francês, o jornal falava da moça a pretexto de abordar curiosidades dos ingleses, e não dos franceses, claro, sobre a moça. Ah, tá.
Experimente entrar no site do Robô Ed, mascote do Conpet, programa nacional de racionalização do Ministério de Minas e Energia. Acione o bate papo com o suposto robô e pergunte se ele gosta do Lula, depois, pergunte se o Ed gosta do FHC.
Ô, delixinha minha, toisinha mais totosa do mundo! É, voxêêê, voxê meeesmo, meu bebezinho. Vem cá com o seu amorzinho! Vamos ver um filmezinho hoje? Fofurinha! (Bilú, bilú.)
Sabe aqueles casais insuportáveis que falam desse jeito? Eles são mais felizes. Insuportavelmente mais felizes.
Em uma pesquisa feita nos EUA, 75% dos participantes assumiu usar o linguajar fofinho com o parceiro. E, segundo os pesquisadores, os casais que falavam nesse tatibitati para adultos demonstraram maior satisfação, intimidade e segurança no relacionamento, além de terem uma vida sexual mais movimentada.
A justificativa é que, ao abandonar o papel de “adulto normal”, assumindo seu lado bobão e romântico sem economia, a pessoa se permite criar um nível de intimidade mais elevado com a cara-metade. E isso, é claro, favorece o relacionamento.
A décima edição da revista CONTUDO, que chegou às bancas neste sábado (26), traz na capa uma realidade que merece, no mínimo, reflexão. A taxa de evasão nos cursos da UESC.
A cobertura da procissão de São José, uma das mais tradicionais manifestações populares de Itabuna, teve destaque nessa edição. Como não poderia faltar, a reportagem retrata também o viés político que se apresentou na festa.
A CONTUDO é vendida por R$ 2,00 em todas as bancas de Ilhéus e Itabuna.
O canal de filmes adultos, Sexy Hot (sexyhot.com.br), faz uma enquete com seus assinantes para saber qual a mentira mais contada na cama. O interrogatório é para celebrar o dia 1º de abril que vem aí.
São duas opções de resposta: “eu te amo” e “isso nunca me aconteceu antes”. O que você responderia?
A cantora Maria Bethânia conseguiu autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 1,3 milhão e criar um blog.
A ideia é que o site “O Mundo Precisa de Poesia” traga diariamente um vídeo da cantora interpretando grandes obras da literatura. O diretor Andrucha Waddington seria o responsável pelos 365 vídeos.
Há cerca de três anos, Bethânia teve um pedido de captação de R$ 1,8 milhão para uma turnê rejeitado. No entanto, Juca Ferreira (titular do ministério na ocasião) ignorou o parecer e autorizou a captação um pouco inferior (R$ 1,5 milhão).
O marketing tem, sim, o poder de matar ou fazer explodir positivamente um jeito de se fazer Carnaval em Salvador. O debate é velho, mas não mais velho que a repetição das mesmas imagens, dos mesmos enquadramentos que, durante uma semana, se vê, com raras exceções, em todas as emissoras locais de TV.
Algumas dessas emissoras reivindicam para si e suas crias um protagonismo maior do que o da própria festa em si. E quando acha-se que já se viu tudo o que poderia haver de pior, eis que alguma transmissão vai ao ar para provar que tudo sempre pode piorar. Este ano a piora foi o caso da mocinha Lola Melnick (ucraniana, dizem), uma espécie de cover estéril da recém-falecida condessa Carola Scarpa (que Deus a tenha!). A curvilínea calipígia foi enviada pela emissora de Sílvio Santos para matar de vergonha os profissionais locais do jornalismo da TV Aratu, retransmissora do SBT em Salvador.
A ministra da Comuncação Social, Helena Chagas, passou a maior saia justa na tarde da ultima terça-feira (08).
Pelo Twitter, Helena retransmitiu aos seus 7.679 seguidores, uma frase que critica petistas ilustres e aliados do governo federal
A mensagem de Lourival Bonetti, dizia: “ganhar menos que esta raça devoradora, políticos como Sarney, Mubarak, Kadaf, Buch, Lula, Dirceu, Genuíno, me envergonham, que nojo”.
Por meio da assessoria, Helena Chagas disse que retransmitir a mensagem foi um erro, e que a culpa era de sua péssima coordenação motora.
A decisão é o ato de cindir, romper com algo que nos prende. Quando um bebê nasce seu cordão umbilical deve ser cortado, cindido, para que ele possa viver, pois caso isso não aconteça ele nem estará no ventre da mãe e tão pouco apto a viver fora dela. Ao decidir o rompimento do cordão umbilical de uma criança, ela entrará no mundo das decisões, o qual a tornará livre, dona do livre arbítrio. Ele poderá agora responder e escolher o que ela quer para o restante de sua vida. Você pode ter visto ou até conhece pessoas que até hoje estão pressas por “cordões umbilicais”, laços que não as deixam viver, “nem uma vida fora do ventre, nem dentro do ventre”. O que seria um “ventre”?
Ventre é algo que abriga, nutri e protege um feto. Neste local, o feto pode desenvolver-se e constituir-se como ser humano. Mas depois de 9 meses acontece/chega a hora do parto, ele, o bebê, necessitará sair do ventre materno e conhecer o mundo que o cerca, o qual o espera. Quando um bebe nasce antes dos 9 meses dar-se-á o nome de prematuro e quando supera esse período dar-se-á o nome de supermaduro. Mas quando ele nasce e não se separa do cordão umbilical como ele é classificado? Não há classificação, é algo (in)definido.
Se me rendí aos realitys? Digamos que estou de refém. Acompanhando por comentários de rede sociais, muito mais do que assistindo realmente. Não decorei nomes e muito menos sei quem é o quê ou o que pretende fazer. Vi uma bundinha ou outra gostosa. Um bando de marmanjo pronto pra guerra. Percebi que a ordem é ir para cima e divertir o povo.
Como? Basicamente com insinuações sexuais, poses, músculos e rastilhos de pólvora espalhados prontos para uma explosão. É o que funciona. Também gosto muito.
Todavia, entendo que o reality seja um jogo puramente psicológico e tem perfis pré-determinados muito claros. Nem preciso me aprofundar nessa questão. A grande maioria que enxerga mais do que o óbvio já sabe.
É uma oportunidade de sair do anonimato, uma chance de ganhar um bom dinheiro, mas deveria servir também como utilidade nas reflexões sociais, afinal, é um jogo de sociedade. Quando paro para assistir, é o que busco. Refletir sobre certos comportamentos humanos. Um laboratório onde, inclusive, já fui um rato.
Você sabia que a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) possui uma TV?
É a TV Uesc, onde alunos de comunicação social são responsáveis pela produção do conteúdo. A sintonia da TV, por enquanto, é restrita aos campus da universidade, mas uma parceria com o Canal Futura permite a exibição do que é produzido por aqui para uma audiência maior.
O vídeo abaixo é da série “Encena”, onde vários assuntos são debatidos de uma maneira, digamos, descontraída. Neste episódio o tema debatido foi a vida sexual de um casal.
Gal Costa disse, pelo Twitter, que os baianos são “preguiçosos”. Logo ela, uma legítima baiana. Pois levou tanta porrada virtual que abandonou o mundinho do microblog, magoada e coberta de razão. Ô, gentinha!
Rita Lee também falou umas bobagens, foi linchada e se despediu do treco, para depois voltar, cheia de nenhuma justificativa. Ela deve sentir alguma emoção em participar da miniblogosfera. Ué.
O que eu percebo é o seguinte: as pessoas estão tendo uma vida muito miserável. E não somos só nós, eu e você. Tenho me esforçado, e não cheguei tão baixo a ponto de brigar com quem não conheço pessoalmente.
Bastam as cretinices que sou obrigado a ouvir das pessoas que realmente me cercam. São tantas. Por que perderia tempo cavoucando a estupidez que se propaga pelo infinito da internet?
As cenas televisivas mais marcantes da semana foram as torrentes de água, terra e lama desmanchando boa parte das cidades serranas do Rio de Janeiro (Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo), somando, até a manhã de quinta-feira, mais de 350 mortes confirmadas. No entanto, antes de essa tragédia acontecer, uma cena brasileira exibida na TV merece reflexão, como tradução de uma certa (i)moralidade nacional que se espraia, cada vez a passos mais largos. Na ultima terça-feira, um repórter cinematográfico da Rede Globo registrou, com requintes de detalhes, um homem, em plena luz do dia, na Ponte da Freguesia do Ó, em São Paulo, quebrando com golpes de picareta a mureta da ponte para roubar fios de cobre da rede de iluminação pública.